[FP] Alice Dewitt Bukater

Desde pequena, Alice poderia ser facilmente classificada como irresponsável. Não ligava se estava atrasada ou não para tal compromisso, aliás, nem fazia questão de aparecer, e se aparecesse, chegava na hora em que bem entendesse. Normas e bons modos não eram bem os seus pontos fortes. Não fazia parte de sua natureza ser controlada, ainda mais por Arthur e Margaret. Aliás, tudo o que irritasse os pais parecia se tornar o hobbie favorito de Alice em questão de segundos.
No entanto, com o tempo, uma boa parte de toda aquela impetuosidade, teimosia e determinação que a garota possuía foi se extinguindo, dando lugar ao medo e à fragilidade. Sempre temeu pôr sua confiança em qualquer pessoa e ser traída, conhecia muito bem a falta de caráter de todos à sua volta. Com a morte da irmã, essa característica piorou e uma nova fora adquirida: o medo de perder qualquer pessoa que se importasse.
Porém, os poucos que conseguiam conquistar sua confiança e arrancar algumas palavras de si, viam que a garota sonhadora e rebelde ainda estava ali, bem escondida entre o sarcasmo e os meios sorrisos.

Alice sempre fora considerada um enigma para muitos. Apesar de usar e abusar de todos os benefícios da realeza, nunca sequer hesitara antes de declarar aos quatro ventos sobre como odiava pertencer àquele mundo. Odiava os eventos sociais; as roupas desconfortáveis que valiam tanto quanto um carro; os sorrisos hipócritas e falsos que todos exibiam enquanto fingiam gostar da garota problema que sempre fora, como cobras dançando e chiando antes de dar o bote. Eles só queriam saber de dinheiro, status. Cobras como seus próprios pais, Arthur e Margaret, tão egocêntricos e materialistas quanto poderiam ser.
Talvez o seu imenso ódio se originasse da falta de atenção dos pais, sempre ocupados demais com suas “viagens de negócios”. Os raros momentos em que estavam perto e juntos era para expor a família perfeita para a sociedade, fingindo ser um casal feliz e carinhoso com as filhas também perfeitas, quando na realidade nem sabiam ao certo a idade das duas. Desde muito cedo, as gêmeas Alice e Amanda só puderam contar uma com a outra, em qualquer tipo de situação.  Cresceram juntas, usadas pelos pais como meras peças em um jogo muito maior do que elas. As aulas particulares que tinham no castelo, as lições de dança e música, tudo orquestrado pelos pais para subir na escada social. Seus interesses pessoais não importavam nem um pouco para os pais, ou até mesmo suas conquistas, mas aquilo não afetava tanto Alice quanto afetava Amanda. Alice sentia-se bem em saber que pelo menos não estava sozinha naquele mundo cheio de falsidades em que vivia. Na realidade, ela sentia raiva, muita raiva. Fazia de tudo para envergonhar os pais, enquanto que Amanda sempre fora mais dedicada e otimista, achando que conquistaria a afeição dos pais se sempre fizesse o que eles queriam. E isso fez com que a raiva dentro de si crescesse ainda mais quando alguns poucos anos depois, Amanda adoecera.
Os criados ligaram rapidamente para o médico da família quando a garota subitamente desmaiara em um dos cômodos do castelo, que não soube explicar o porquê daquilo já que a saúde de Amanda sempre fora no mínimo estável, dizendo ser apenas um mal estar. Contudo, com o passar do tempo, Amanda fora se tornando cada vez mais fraca, e nenhum outro médico que pensaram em contratar conseguia dizer o motivo dos desmaios frequentes e de todos aqueles outros sintomas. Arthur e Margaret quando souberam do fato, mandaram interná-la no melhor hospital da região sem que a mídia soubesse de tal escândalo, é claro que no final a notícia de que uma das filhas dos Bukater estava internada não demorou para sair em todos os noticiários. E mesmo assim nenhum médico conseguira identificar a doença da garota, apenas informar que era degenerativa e colocá-la em um coma induzido com a intenção de diminuir seu sofrimento. Era de se esperar que os pais viessem visitá-la, entretanto nem ao menos uma visita prestaram para ambas as filhas.
Alice estava arrasada com a impotência da situação, tudo o que conseguia fazer era assistir enquanto a irmã morria aos poucos bem diante de seus olhos, e mesmo assim, sempre tivera que mentir para a mídia sobre as “visitas calorosas dos pais”, e sobre como a irmã estava cada dia melhor.   Isso se manteve até a irmã vir a falecer de insuficiência renal.
A jovem e agora única herdeira da herança Bukater se revoltara com a falta de conhecimento atual dos médicos, e se revoltara mais ainda com a repugnância dos pais em não se importarem nem um pouco com a morte de Amanda, apenas se entristecerem em ter sido a filha mais facilmente influenciável a ter falecido. Foi então que resolvera estudar medicina e tentar se aprofundar mais em questões que os outros médicos não se dedicavam tanto, e teria conseguido se seus pais não tivessem descoberto seus planos e a enviarem com um imenso alívio à Royals, onde não se desviaria de seu futuro como duquesa nunca mais.