[FP] DELSCHAFT, Helene

Helene, definitivamente, não é apenas um rostinho bonito para emoldurar as páginas dos tabloides, sempre rindo às suas custas por passar as tardes terapêuticas dentro de uma loja de marca. A dama nutre um certo pavor por pobreza, sujeira ou qualquer coisa que saia de seu controle no seu mundo perfeito, tornando-a em uma pessoa mimada, egocêntrica e, por falta de palavra melhor, narcisista. Preocupa-se muito com sua aparência, estando bem vestida em todas as ocasiões sociais. Tende a ser bem teatral para conseguir o que quer, e quando não consegue, Helene se torna a pior inimiga da pessoa que não a deu o que gostaria. Uma língua afiada, contatos importantes e amizades ainda mais imponentes, a Duquesa de Düsseldorf é uma dama criativa para ter o que deseja, mas ao mesmo tempo, não consegue se desfazer de laços emocionais, assim que os estabelece, considerando-os mais importantes até mesmo do que suas novas aquisições nas lojas de São Petersburgo. Apesar de tudo, Helene consegue ser meiga quando bem lhe convém, mesmo que, por trás, esteja esfaqueando figurativamente a pessoa em questão. Por sua habilidade e criatividade, obviamente unidos ao tédio sempre que não está com suas amigas, cria histórias de vida tão reais que as usa esporadicamente, podendo ser classificada como uma mentirosa patológica.

Seu nascimento não foi um evento grandioso, como o nascimento dos herdeiros do trono alemão, mas ela seria a décima na fila para a sucessão, segundo seus pais. Filha mais nova dentre quatro irmãos mais velhos, a loira cresceu cercada por mimos que a encantariam pelo restante de sua vida, e que se tornariam a sua jaula particular, nos anos seguintes. Os irmãos a ensinaram a cavalgar, a pintar e a escrever como uma boa dama deveria saber, mas foi seu irmão mais velho quem dera o melhor dos artefatos, aquele ao qual Helene mais se apegaria: um cartão de crédito. A gorda conta bancária conseguia sustentar todos os gastos da menina desde que se entendia por gente, mas tão logo quando a mãe teve seu último filho, falecendo logo em seguida, nem sequer aquele mimo fora suficiente para apartar toda a sua solidão.

Quando viram que a filha se tornaria um problema, já que estava começando a ficar irritadiça e nada a acalmava, seus irmãos sugeriram ao seu pai que a dama fosse escoltada para a Rússia, país ao qual a Alemanha, e, principalmente os duques de Düsseldorf tinham contato direto, para fazer companhia a princesa russa e, de certa forma, esquecer-se da dor. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Por mais que a convivência com Vasilisa fosse um bálsamo -- as duas tornaram-se amigas durante seu período na corte russa, dos dez até os quinze anos, fortalecendo cada vez mais a aliança entre os Estados --, Helene ainda apresentava sua compulsividade, que foi apenas se lapidando, conforme crescia, seu senso de moda e estilo cada vez mais afiado.

Quando descobriu que teria que ir a Royals High School, simplesmente não acreditou, já que detestava a maior parte dos nobres, mas ao menos um de seus irmãos ainda estudavam no lugar, e ver sua família tinha se tornado tão raro que talvez fosse um dos motivos pelos quais a loira simplesmente não conseguia passar uma tarde sem alimentar seu vício. O pai morreu poucos meses depois de pisar em Londres, tendo que aturar nobres ingleses -- Helene sempre detestou os ingleses -- e de baixo calibre. O senso de justiça se perdeu em meio a tantas danças, bailes e champanhe, não que ela realmente se importasse.

Assim que finalmente foi liberada do local, um diploma promissor debaixo do braço, teve de escolher que tipo de graduação teria que seguir, mas a morte dos irmãos, menos a de um, em um atentado a mansão não poderia ter vindo em hora menos oportuna. O irmão sobrevivente a assegurou de que estava tudo sob controle, e que ela poderia continuar vivendo sua vida como nunca, mas havia algo errado, e mesmo que Helene não gostasse de admitir, ela era curiosa. Ter a Rússia ao seu lado, por causa, justamente, de sua melhor amiga Vasilisa, era uma das únicas coisas que ainda a mantinham viva, mas era certo que não sabia disso.